Mede 36 cm. Corpo franzino, preto uniforme, de bico surpreendemente alto,
forte e curto. Cauda comprida e graduada. Sexo sempre semelhante. O anu-preto,
apesar de formar casais, vive sempre em bandos, ocupando territórios
coletivos durante todo o ano. São aves extremamente sociáveis.
Tem grande habilidade em pular e correr pela ramagem. O cheiro do corpo
é forte e característico, perceptível para nós
a vários metros e capaz de atrair morcegos hematófogos e
animais carnívoros.
Habitat
Vive nas paisagens abertas com moitas e capões entre pastos e jardins;
ao longo das rodovias costuma ser quase a única que sempre se vê,
como habitante mais comum de lavouras abandonadas. Prefere lugares úmidos.
Voador fraco mal resiste à brisa, qualquer vento mais forte o leva
para longe.
Distribuição
Ocorre da Flórida à Argentina e emtodo o Brasil.
Hábitos
Gostam de apanhar sol e banhar-se na poeira, ficando a plumagem às
vezes fortemente tingida com a cor da terra do local ou de cinza e carvão,
sobretudo se eles correrem antes pelo capim molhado, pois suas penas se
tornam pegajosas. Pela manhã e após as chuvas pousam de asas
abertas para enxugarem-se. À noite para se esquentar juntam-se em
filas apertadas ou aglomeram-se em bandos desordenados; acontece de um
correr sobre as costas dos outros, que formam a fila, para forçar
a sua penetração entre os companheiros. Procuram moitas de
taquara para pernoitar. Arrumam as suas plumagens reciprocamente.
Alimentação
São essencialmente carnívoros, comendo gafanhotos, percevejos,
aranhas, miriápodes etc. Predam também lagartas peludas e
urticantes, lagartixas e camudongos. Pescam na água rasa; periodicamente
comem frutas, bagas, coquinhos e sementes, sobretudo na época seca
quando há escassez de artrópodes. O anu-preto alimenta-se
sobretudo de ortópteros (gafanhotos) que apanha acompanhando o gado.
Quando não há gado no pasto executa, às vezes, caçadas
coletivas no campo, o bando espalha-se no chão, em um semicírculo,
ficando afastados uns dos outros por dois ou três metros. Permanecem
assim imóveis e atentos e quando aparece um inseto, a ave mais próxima
salta e o apanha. De tempos em tempos o bando avança. Quando pousam
sobre o dorso dos bois geralmente o fazem para ampliar seu campo visual.
Às vezes apanha insetos em pleno vôo, capturando também
pequenas cobras e rãs; seguem tratores que aram os campos.
Reprodução
Os ovos das fêmeas do anu-preto perfazem 14% do peso de seu corpo.
É de cor azul-esverdeada, coberto por uma crosta calcárea,
raspada sucessivamente pelo process de virar os ovos durante a incubação.
A incubação é curta, dura de 13 a 16 dias. O anu-preto
costuma trazer comida quando visita a fêmea no ninho. O macho dança
em torno da fêmea, no solo. As fêmeas, embora possuam ninhos
individuais, se associam mais freqüentemente a um ou dois casais do
seu bando para construir ninho coletivo, pôr ovos e criar a prole
juntas, tendo a cooperação de machos e filhotes crescidos
de posturas anteriores. Seus ninhos são grandes e profundos. Pode
acontecer de um ninho ser ocupado por 6 ou 10 aves, e conter 10, 20 e até
mais ovos. A postura de uma fêmea é calculada em 4 a 7 ovos.
A incubação é curta, dura de 13 a 16 dias, são
criados com sucesso meia dúzia de filhotes por vez. A boca aberta
vermelha do filhote do anu-preto é marcada por três sinais
amarelos.
Quando os seus ninhos são abandonados, às vezes são
aproveitados por outros pássaros, cobras e por pequenos mamíferos,
sobretudo marsupiais.Os filhotes deixam o ninho antes de poder voar, com
a cauda curta, e são alimentados ainda durante algumas semanas.
Seus filhotes ainda pequenos são facilmente espantados e fogem para
todos os lados sobre os galhos em torno do ninho, mas costumam regressar
ao mesmo quando se sentem novamente seguros.
Manifestações
sonoras
O anu-preto possui mais de uma dúzia de vozes diferentes. Tem dois
pios de alarme: a um certo grito todos os componentes do bando se empoleiram
em pontos bem visíveis, examinando a situação; outro
grito, emitido quando um gavião se aproxima, faz desaparecer num
instante no matagal todo o grupo. Eles se divertem cavaqueando baixinho,
de modo bem variado, causando às vezes a impressão de estar
tentando imitar a voz de outra ave.
Folclore, crendices
Para dar um exemplo das crendices absurdas que envolvem os animiais, dizem
que à carne do anu-preto é atribuído o valor curativo
em doenças venéreas.
Bibliografia
Helmt Sick, 1988. "Ornitologia Brasileira".
Marco Antonio de Andrade, 1997. "Aves Silvestres - MInas Gerais".
John S. Dunning & William Belton, 1993. "Aves Silvestres do Rio
Grande do Sul".
John S. Dunning, 1987. "South American Birds".